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Renuncia Bento XVI: Igreja prepara-se para entrar em deriva

Por Tiago Silva

Bento XVI

O mundo recebe atônito a renúncia de Bento XVI. Um dia calmo, sem muitos acontecimentos, foi abalado pelo anúncio de aposentadoria do líder espiritual de mais de um bilhão de católicos. Não poderia ser diferente. Emissoras interrompem sua programação para entrar ao vivo, sites de informação dão destaque à notícia e, nas redes sociais, o assunto torna-se Bento XVI.

Ainda que boa parte dos veículos de informação no Brasil não dêem destaque aos acontecimentos do universo católico, a renúncia inesperada de Ratzinger tornou-se um acontecimento sem precedentes na história dos meios de comunicação de massa. Tornou-se inevitável dedicar um espaço da programação para informar a renúncia do primeiro Papa eleito no terceiro milênio.

Um menino de vida simples, sobrevivente da Segunda Guerra Mundial, torna-se sacerdote, teólogo e professor universitário. Sua dedicação aos estudos e habilidade em aprofundar-se nas bases da verdade, da ética e da moral, portaram-no rapidamente ao serviço da Igreja num dos acontecimentos mais importantes da Igreja Católica, o Concílio Ecumênico Vaticano II, onde foi consultor. Com suas ideias de “progresso sem ruptura” contribuiu para uma Igreja mais alicerçada na realidade histórica, humana e social. Em seguida, Paulo VI consagra-o bispo.

Quando João Paulo II é eleito para assumir “as chaves de Pedro”, convoca o jovem bispo para dirigir a Congregação para a Doutrina da Fé, tornando-se cardeal e um dos principais colaboradores de Wojtyla. Após a morte do beato Papa polaco, os cardeais reunidos em conclave, cientes da necessidade de uma personalidade forte à frente da Igreja para enfrentar os desafios dos novos tempos, elegem Ratzinger que assume o nome Bento XVI.

Após sete anos de pontificado, considerado por muitos como transição, Bento XVI tornou-se figura fundamental na história dos cristãos católicos. Por meio de suas encíclicas retomou o discurso sobre a caridade, a esperança e, sobretudo, o resgate de que Deus é amor como chave de leitura de seu pontificado. Dedicado sobretudo às questões disciplinares das escolhas dos novos bispos e a enfrentar claramente a chaga do abuso contra menores, não deixou seu rebanho desamparado, atualizando e anunciando sempre a mensagem de Jesus Cristo aos cristãos dos cinco continentes.

E agora, o que acontece? Previsto para deixar a função mais alta da hierarquia católica no dia 28/02 às 20h, a Igreja prepara-se para entrar em “deriva”. Deriva não porque estará perdida, mas por estar sem o sucessor de Pedro, figura fundamental para os cristãos católicos. Nenhuma decisão importante deverá ser tomada até a eleição do novo Papa. Até que se conheça o sucessor, será função do cardeal, secretário de estado e camerlengo, Tarcisio Bertone, conduzir a Igreja interinamente sem, entretanto, poder tomar decisões próprias do sucessor de Pedro, tais como, escrever encíclicas, criar dioceses, eleger bispos, entre outros.